martes, 30 de octubre de 2012

TL-RATZINGER



"EU VOS EXPLICO A TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO"
Por Card. Joseph Ratzinger 

Tradução: d. Estêvão Bettencourt 

Fonte: Rev. Pergunte e Responderemos (1984)
 Para esclarecer a minha tarefa e a minha intenção, com relação ao tema, parecem-me necessáriasalgumas observações preliminares:1.

A teologia da libertação é fenômeno extraordinariamente complexo. É possível formar-seum conceito da teologia da libertação segundo o qual ela vai das posições mais radicalmentemarxistas até aquelas que propõem o lugar apropriado da necessária responsabilidade docristão para com os pobres e os oprimidos no contexto de uma correta teologia eclesial,como fizeram os documentos do CELAM, de Medellin a Puebla. Neste nosso texto, usaremoso conceito “teologia da libertação” em sentido mais restrito: sentido que compreendeapenas aqueles teólogos que, de algum modo, fizeram própria a opção fundamentalmarxista. Mesmo aqui existem, nos particulares, muitas diferenças que é impossívelaprofundar nesta reflexão geral. Neste contexto posso apenas tentar pôr em evidênciaalgumas linhas fundamentais que, sem desconhecer as diversas matrizes, são muitodifundidas e exercem certa influência mesmo onde não existe teologia da libertação emsentido estrito.2.

Com a análise do fenômeno da teologia da libertação torna-se manifesto um perigofundamental para a fé da Igreja. Sem dúvida, é preciso ter presente que um erro não podeexistir se não contém um núcleo de verdade. De fato, um erro é tanto mais perigoso quantomaior for a proporção do núcleo de verdade assumida. Além disso, o erro não se poderiaapropriar daquela parte de verdade, se essa verdade fosse suficientemente vivida etestemunhada ali onde é o seu lugar, isto é, na fé da Igreja. Por isso, ao lado dademonstração do erro e do perigo da teologia da libertação, é preciso sempre acrescentar apergunta: que verdade se esconde no erro e como recupera-la plenamente?3.

A teologia da libertação é um fenômeno universal sob três pontos de vista:a) Essa teologia não pretende constituir-se como um novo tratado teológico ao lado dosoutros já existentes; não pretende, por exemplo, elaborar novos aspectos da ética social daIgreja. Ela se concebe, antes, como uma nova hermenêutica da fé cristã, quer dizer, comonova forma de compreensão e de realização do cristianismo na sua totalidade. Por istomesmo, muda todas as formas da vida eclesial: a constituição eclesiástica, a liturgia, acatequese, as opções morais;b) A teologia da libertação tem certamente o seu centro de gravidade na América Latina,mas não é, de modo algum, fenômeno exclusivamente latino-americano. Não se podepensá-la sem a influência determinante de teólogos europeus e também norte-americanos.Além do mais, existe também na Índia, no Sri Lanka, nas Filipinas, em Taiwan, na África -embora nesta última esteja em primeiro plano a busca de uma “teologia africana”. A união


dos teólogos do Terceiro Mundo é fortemente caracterizada pela atenção prestada aostemas da teologia da libertação;c) A teologia da libertação supera os limites confessionais. Um dos mais conhecidosrepresentantes da teologia da libertação, Hugo Assman, era sacerdote católico e ensina hojecomo professor em uma Faculdade protestante, mas continua a se apresentar com opretensão de estar acima das fronteiras confessionais. A teologia da libertação procura criar, já desde as suas premissas, uma nova universalidade em virtude da qual as separaçõesclássicas da Igreja devem perder a sua Importância.
I. O Conceito de Teologia da Libertação e os Pressupostos de sua Gênese
 Essas observações preliminares, entretanto, já nos introduziram no núcleo do tema. Deixam aberta,porém, a questão principal: o que é propriamente o teologia da libertação? Em uma primeiratentativa de resposta, podemos dizer: a teologia da libertação pretende dar nova interpretaçãoglobal do Cristianismo; explica o Cristianismo como uma práxis de libertação e pretende constituir-se, ela mesma, um guia para tal práxis. Mas assim como, segundo essa teologia, toda realidade épolítica, também a libertação é um conceito político e o guia rumo à libertação deve ser um guiapara a ação política. “Nada resta fora do empenho político. Tudo existe com uma colocaçãopolítica” (Gutierrez). Uma teologia que não seja “prática (o que significa dizer “essencialmentepolítica”) é considerada “idealista” e condenada como irreal ou como veículo de conservação dosopressores no poder.Para um teólogo que tenha aprendido a sua teologia na tradição clássica e que tenha aceitado a suavocação espiritual, é difícil imaginar que seriamente se possa esvaziar a realidade global doCristianismo em um esquema de práxis sócio-político de libertação. A coisa é, entretanto, maisdifícil, já que os teólogos da libertação continuam a usar grande parte da linguagem ascética edogmática da Igreja em clave nova

, de tal modo que aqueles que lêem e que escutam partindo deoutra visão, podem ter a impressão de reencontrar o patrimônio antigo com o acréscimo apenas dealgumas afirmações um pouco estranhas mas que, unidos a tanta religiosidade, não poderiam sertão perigosas.Exatamente a radicalidade da teologia da libertação faz com que a sua gravidade não seja avaliadade modo suficiente; não entra em nenhum esquema de heresia até hoje existente. A sua colocação, já de partida, situa-se fora daquilo que pode ser colhido pelos tradicionais sistemas de discussão.Por isto tentarei abordar a orientação fundamental da teologia da libertação em duas etapas:Primeiramente é necessário dizer algo acerca dos pressupostos que a tornaram possível; a seguir,desejo aprofundar alguns dos conceitos base que permitem conhecer algo da estrutura da teologiada libertação.Como se chegou a esta orientação completamente nova do pensamento teológico, que se exprimena teologia da libertação? Vejo principalmente três fatores que a tornaram possível:1.

Após o Concílio [Vaticano II], produziu-se uma situação teológica nova:



a) Surgiu a opinião de que a tradição teológica existente até então não era mais aceitável e,por conseguinte, se deviam procurar, a partir da Escritura e dos sinais dos tempos,orientações teológicas e espirituais totalmente novas;b) A idéia de abertura ao mundo e de compromisso no mundo transformou-sefreqüentemente em uma fé ingênua nas ciências; uma fé que acolheu as ciências humanascomo um novo evangelho, sem querer reconhecer os seus limites e problemas próprios. Apsicologia, a sociologia e a interpretação marxista da história foram considerados comocientificamente seguras e, a seguir, como instâncias não mais contestáveis do pensamentocristão;c) A critica da tradição por parte da exegese evangélica moderna, especialmente a deBultmann e da sua escola, tornou-se uma instância teológica inamovível que barrou aestrada às formas até então válidas da teologia, encorajando assim também novasconstruções.2.

A situação teológica assim transformada coincidiu com uma situação da historia espiritualtambém ela modificada. Ao final da fase de reconstrução após a segunda guerra mundial,fase que coincidiu pouco mais ou menos com o término do Concilio, produziu-se no mundoocidental um sensível vazio de significado, ao qual a filosofia existencialista ainda em voganão estava em condições de dar alguma resposta. Nesta situação, as diferentes formas doneo-marxismo transformaram-se em um impulso moral e, ao mesmo tempo, em umapromessa de significado que parecia quase irresistível à juventude universal. O marxismo,com as acentuações religiosas de Bloch e as filosofias dotadas de rigor científico de Adorno,Harkheimer, Habernas e Marcuse, ofereceram modelos de ação com os quais algunspensadores acreditavam poder responder ao desafio da miséria no mundo e, ao mesmotempo, poder atualizar o sentido correto da mensagem bíblica.3.

O desafio moral da pobreza e da opressão não se podia mais ignorar, no momento em que aEuropa e a América do Norte atingiam uma opulência até então desconhecida. Este desafioexigia evidentemente nova respostas, que não se podiam encontrar na tradição existenteaté aquele momento. A situação teológica e filosófica mudada convidava expressamente abuscar o resposta em um cristianismo que se deixasse regular pelos modelos da esperança,aparentemente fundados cientificamente, das filosofias marxistas.
II. A Estrutura Gnoseológica Fundamental do Teologia do Libertação
Esta resposta se apresenta totalmente diversa nas formas particulares de teologia da libertação:teologia da evolução, teologia política, etc. Não pode, pois, ser apresentada globalmente.Existem, no entanto, alguns conceitos fundamentais que se repetem continuamente nas diferentesvariações e exprimem comuns intenções de fundo. Antes de passar aos conceitos fundamentais doconteúdo, é necessário fazer uma observação acerca dos elementos estruturais da teologia dalibertação.Para tal, podemos retomar o que já afirmamos acerca da situação teológica mudada após oConcilio. Como já disse, leu-se a exegese de Bultmann e da sua escola como um enunciado da“ciência” sobre Jesus, ciência que devia obviamente ser considerado como válida. O “Jesushistórico” de Bultmann, entretanto, apresentava-se separado por um abismo (o próprio Bultmann



Essa decisão, aparentemente “científica” e “hermeneuticamente” indiscutível, determina por si orumo da ulterior interpretação do Cristianismo, seja quanto às instancias interpretativas, sejaquanto aos conteúdos interpretados.No que diz respeito as instâncias interpretativas, os conceitos decisivos são: povo, comunidade,experiência, história. Se até então a Igreja, isto é, a Igreja Católica na Sua totalidade, que,transcendendo tempo e espaço, abrange os leigos (sensus fidei) e a hierarquia (magistério), fora ainstância hermenêutica fundamental, hoje tornou-se a “comunidade” tal instância. A vivência e asexperiências da comunidade determinam agora a compreensão e a interpretação da Escritura.De novo pode-se dizer, aparentemente de maneira muito científica, que a figura de Jesus,apresentada nos Evangelhos, constitui uma síntese de acontecimentos e interpretações daexperiência de comunidades particulares, onde no entanto a interpretação é muito mais importantedo que o acontecimento, que, em si, não é mais determinável.Essa síntese original de acontecimento e interpretação pode ser dissolvida e reconstruída semprede novo: a comunidade “interpreta” com a sua “experiência” os acontecimentos e encontra assimsua “práxis”. Esta idéia, podemos encontra-la em modo um tanto diverso do conceito de povo, como qual se transformou a acentuação conciliar da idéia de “povo de Deus” em mito marxista. Asexperiências do “povo” explicam a Escritura. “Povo” torna-se assim um conceito oposto ao de“hierarquia” e em antítese a todas as instituições indicadas como forças da opressão.Afinal, é “povo” quem participa da “luta de classes”; a “igreja popular” acontece em oposição àIgreja hierárquica. Por fim, o conceito de “história” torna-se instância hermenêutica decisiva. Aopinião, considerada cientificamente segura e irrefutável, de que a Bíblia raciocine em termosexclusivamente de história da salvação, e portanto de maneira anti-metafísica, permite a fusão dohorizonte bíblico com a idéia marxista da história que procede dialeticamente como autênticaportadora de salvação; a história é a autêntica revelação e, portanto, a verdadeira instânciahermenêutica da interpretação bíblica.Tal dialética é apoiada, algumas vezes, pela pneumatologia. Em todo caso, também esta última, nomagistério que insiste em verdades permanentes, vê uma instância inimiga do progresso, dado quepensa “metafisicamente” e assim contradiz a “história”. Pode-se dizer que o conceito de históriaabsorve o conceito de Deus e de revelação. A “historicidade” da Bíblia deve justificar o seu papelabsolutamente predominante e, portanto, deve legitimar, ao mesmo tempo, a passagem para afilosofia materialista-marxista, na qual a história assumiu a função de Deus.
III. Conceitos Fundamentais da Teologia da Libertação
Com isto, chegamos aos conceitos fundamentais do conteúdo da nova interpretação doCristianismo. Uma vez que os contextos nos quais aparecem os diversos conceitos são diferentes,gostaria de citar alguns deles, sem a pretensão de esquematiza-los.Comecemos pela nova interpretação da fé, da esperança e da caridade. Com relação a fé, porexemplo, J. Sobrinho afirma: a experiência que Jesus tem de Deus é radicalmente histórica. “A suafé converte-se em fidelidade”. Por isso Sobrinho substitui fundamentalmente a fé pela “fidelidade àhistória” (fidelidad a la historia, 143-144). Jesus é fiel à profunda convicção de que o mistério davida do homem … é realmente o último … (144). Aqui produz-se aquela fusão entre Deus e história


que dá a Sobrinho a possibilidade de conservar para Jesus a fórmula de Calcedônia, ainda que comum sentido completamente mudado; pode-se ver como os critérios clássicos da ortodoxia não sãoaplicáveis à análise dessa teologia, Ignacio Ellacuria, na capa do livro sobre este assunto, afirma:Sobrinho “diz de novo … que Jesus é Deus, acrescentando, porém, imediatamente, que o Deusverdadeiro é somente aquele que se revela historicamente em Jesus e nos pobres, que continuam asua presença. Somente quem mantém unidas essas duas afirmações, é ortodoxo …“.A esperança é interpretada como “confiança no futuro” e como trabalho pelo futuro; com isso ela ésubordinada novamente ao predomínio da história das classes.“Amor” consiste na “opção pelos pobres”, isto é, coincide com a opção pela luta de classes.Os teólogos da libertação sublinham com força, diante do “falso universalismo”, a parcialidade e ocaráter partidário da opção cristã; tomar partido é, segundo eles, requisito fundamental de umacorreta hermenêutica dos testemunhos bíblicos. Na minha opinião, aqui se pode reconhecer muitoclaramente a mistura entre uma verdade fundamental do Cristianismo e uma opção fundamentalnão cristã, que torna o conjunto tão sedutor: o sermão da montanha é, na verdade, a escolha porparte de Deus a favor dos pobres. Mas a interpretação dos pobres no sentido da dialética marxistada história e a interpretação da escolha partidária no sentido da luta de classes é um salto “eis allogenos” (grego: para outro gênero), no qual as coisas contrarias se apresentam como idênticas.O conceito fundamental da pregação de Jesus é o de “reino de Deus”. Este conceito encontra-setambém no centro das teologia da libertação, lido porém no contexto da hermenêutica marxista.Segundo J. Sobrinho, o reino não deve ser compreendido espiritualmente, nem universalmente, nosentido de uma reserva escatologicamente abstrata. Deve ser compreendido em forma partidária evoltado para a práxis. Somente a partir da práxis de Jesus, e não teoricamente, é possível definir oque seria o reino: trabalhar na realidade histórica que nos circunda para transformá-la no reino(166).Aqui ocorre mencionar também uma idéia fundamental de certa teologia pós-conciliar queimpulsionou nessa direção. Muitos apregoaram que, segundo o Concílio, se deveriam superar todasas formas de dualismo: o dualismo de corpo e alma, de natural e sobrenatural, de imanência etranscendência, de presente e futuro. Após o desmantelamento desses dualismos, resta apenas apossibilidade de trabalhar por um reino que se realize nesta história e em sua realidade político-econômica.Mas justamente dessa forma deixou-se de trabalhar pelo homem de hoje e se começou a destruir opresente, a favor de um futuro hipotético: assim produziu-se imediatamente o verdadeiro dualismo.Neste contexto gostaria de mencionar também a interpretação, impressionante e definitivamenteespantosa, que Sobrinho dá da morte e da ressurreição. Antes do mais, ele estabelece, contra asconcepções universalistas, que a ressurreição é, em primeiro lugar, uma esperança para aquelesque são crucificados; estes constituem a maioria dos homens: todos aqueles milhões aos quais ainjustiça estrutural se impõe como uma lenta crucifixão (176 e seguintes).O crente, no entanto, participa também do senhorio de Jesus sobre a história, através da edificaçãodo reino, isto é, na luta pela justiça e pela libertação integral, na transformação das estruturasinjustas em estruturas mais humanas. Esse senhorio sobre a história é exercitado ao se repetir o


gesto de Deus que ressuscita Jesus, isto é, dando novamente vida aos crucificados da história (181).O homem assumiu o gesto de Deus e aqui a transformação total da mensagem bíblica se manifestade maneira quase trágica, se se pensa em como essa tentativa de imitação de Deus se desenvolveue se desenvolve ainda.Gostaria de citar apenas alguns outros conceitos: o êxodo se transforma em uma imagem central dahistória da salvação; o mistério pascal é entendido como um símbolo revolucionário e, portanto, aEucaristia é interpretada como uma festa de libertação no sentido de uma esperança político-messiânica e da sua práxis.A palavra redenção é substituída geralmente por libertação, a qual, por sua vez, é compreendida,no contexto da história e da luta de classes, como processo de libertação que avança, por fim, éfundamental também a acentuação da práxis: a verdade não deve ser compreendido em sentidometafísico; trata-se de “idealismo”. A verdade realiza-se na história e na práxis. A ação é a verdade.Por conseguinte, também as idéias que se usam para ação, em última instância são intercambiáveis.A única coisa decisiva é a práxis. A práxis torna-se, assim, o única e verdadeira ortodoxia. Destaforma justifica-se um enorme afastamento dos textos bíblicos: a crítica histórica liberta dainterpretação tradicional, que aparece como não-científica.Com relação à tradição, atribui-se importância ao máximo rigor cientifico na linha de Bultmann. Masos conteúdos da Bíblia, determinados historicamente, não podem, por sua vez, ser vinculantes demodo absoluto. O instrumento para a interpretação não é, em última análise, a pesquisa histórica,mas, sim, a hermenêutica da história, experimentada na comunidade, isto é, nos grupos políticos,sobretudo dado que a maior parte dos próprios conteúdos bíblicos deve ser considerada comoproduto de tal hermenêutica comunitária.Quando se tenta fazer um julgamento geral, deve-se dizer que, quando alguém procuracompreender as opções fundamentais da teologia da libertação não pode negar que o conjuntocontém uma lógica quase incontestável. Com as premissas da critica bíblica e da hermenêuticafundada na experiência, de um lado, e da análise marxista da história, de outro, conseguiu-se criaruma visão de conjunto do cristianismo que parece responder plenamente tanto às exigências daciência, quanto aos desafios morais dos nossos tempos. E, portanto, impõe-se aos homens de modoimediato o tarefa de fazer do Cristianismo um instrumento da transformação concreta do mundo, oque pareceria uni-lo a todas as forças progressistas da nossa época.Pode-se, pois, compreender como esta nova interpretação do Cristianismo atraia sempre maisteólogos, sacerdotes e religiosos, especialmente no contexto dos problemas do terceiro mundo.Subtrair-se a ela deve necessariamente aparecer aos olhos deles como uma evasão da realidade,como uma renúncia à razão e à moral.Porém, de outra parte, quando se pensa o quanto seja radical a interpretação do Cristianismo quedela deriva, torna-se ainda mais urgente o problema do que se possa e se deva fazer frente a ela.* * * * *

Comentários de D. Estevão Bettencourt:



Teologia da Libertação


Teologia da Libertação é um movimento supra-denominacional de teologia política, que engloba várias correntes de pensamento[1] que interpretam os ensinamentos de Jesus Cristo em termos de uma libertação de injustas condições econômicas, políticas ou sociais. Ela foi descrita, pelos seus proponentes como "uma interpretação da fé cristã através do sofrimento dos pobres, sua luta e esperança, e uma crítica da sociedade e da fé católica e do cristianismo através dos olhos dos pobres",[2] mas outros a descrevem como marxismo cristianizado. [3]
Embora a teologia da libertação tenha se tornado um movimento internacional e inter-denominacional por acolher de forma inclusiva e fraternal os valores das Religiões do Oriente, da Umbanda, do Espiritismo, do Islamismo e do Xamanismo, ela começou como um movimento dentro da Igreja Católica na América Latina nos anos 1950-1960. A Teologia da libertação surgiu possivelmente como uma proposta de alternativa de reação moral e sobrenatural à pobreza causada pela injustiça social naquela região. O termo foi cunhado em 1971 pelo peruano padre Gustavo Gutiérrez, que escreveu um dos livros mais famosos do movimento, A Teologia da Libertação. Outros expoentes são Leonardo Boff do BrasilJon Sobrino de El Salvador, e Juan Luis Segundo do Uruguai.[4][5][6] Como boa parte dessa geração está aposentada ou já faleceu, alguns novos nomes estão despontando para substituí-la, como por exemplo o promissor teólogo sul-matogrossense João Paulo Timoteo da Silva [7], DomAdriano Ciocca Vasino e Dom Paulo Sérgio Machado.
Leonardo Boff
Um dos mais dinâmicos e aguerridos polos de irradiação da Teologia da Libertação na América Latina é a Unisinos, instituição de ensino superior jesuíta do Rio Grande do Sul, que acaba de promover o Congresso Continental de Teologia[8]. Com base nos 50 anos do Concílio Vaticano II, esse Congresso propõe uma leitura mais progressista do Concílio que contraste com a versão oficial retrógrada do Vaticano que organizou um Sínodo em Roma sobre a mesma efeméride.[9].
A influência da teologia da libertação diminuiu após seus proponentes, e seu movimento serem admoestados pela Congregação para a Doutrina da Fé (CDF) em 1984 e 1986. A Santa Sé criticou certos conceitos da teologia da libertação como a focagem de pecado institucionalizado ou sistêmico, excluindo os criminos individuais, e o incentivo a luta de classes.[10][11]

Contextualização histórica

Segundo Gonçalves,[12] o nascimento e o desenvolvimento da Teologia da Libertação na América Latina e no Caribe se deve basicamente a três fatores:
  1. Situação política, econômica e social do continente: A Teologia da Libertação foi gestada durante os regimes militares que governavam países do continente.
  2. O desenvolvimento do marxismo como instrumento de análise social: as ciências sociais, entre elas a análise marxista eram utilizados para compreender a origem das contradições da sociedade, embora, segundo Gonçalves, o marxismo não fosse utilizado como ferramenta para construção do projeto social alternativo.
  3. Mudanças no âmbito da Igreja Católica. Do ponto de vista católico, algumas mudanças na Igreja possibilitaram o surgimento da Teologia da Libertação:
    1. A experiência da Ação Católica e seu método VER-JULGAR-AGIR. Esta pedagogia ajudou na busca de uma compreensão crítica da realidade e impulsionou uma ação transformadora.
    2. A realização do Concílio Vaticano II, entre 1962-1965 e a busca de diálogo da Igreja com o mundo moderno.
    3. Segunda Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano, em MedellínColômbia, ocorrida na vigência dos regimes militares.
    4. O florescimento das Comunidades Eclesiais de Base, que impulsionadas pela Conferência de Medellín e pela pedagogia da Ação Católica através do método VER-JULGAR-AGIR, lutavam pela transformação social.
    5. O enfrentamento dos regimes militares por parte dos bispos, quer através das conferências episcopais nacionais, quer por bispos isolados, como Dom Hélder Câmara, Dom Pedro Casaldáliga, Dom Paulo Evaristo Arns, Dom Oscar Romero, entre outros.
Foi a partir do engajamento de grupos cristãos na política que surgiu a Teologia da Libertação, como uma reflexão teórica destas experiências, retro alimentando este movimento de busca da mudança para uma sociedade com viés esquerdista.
Ao final dos anos 70 e início dos 80, a redemocratização das sociedades latino-americanas e caribenhas faz com que a Teologia da Libertação perdesse parte de sua combatividade política e social. Aliado a este fator, a queda do socialismo real e a crise da esquerda política fazem com que estes movimentos repensem sua identidade. Fatores no interior da Igreja Católica também tiveram seu impacto: a eleição de João Paulo II. A experiência do novo papa, vindo de um regime comunista hostil à Igreja , fez com que ele visse com suspeita os movimentos de libertação latino-americanos. Muitos teólogos da libertação fomentaram a formação de células contestatárias e fortemente politizadas dentro da Igreja através das comunidades eclesiais de base.
As mudanças ocorridas na sociedade desde então apresentam novos desafios ao que atualmente se chama de Cristianismo de Libertação: o neoliberalismo econômico e aexclusão social, a globalização, o pluralismo cultural e religioso,[13] a crise das igrejas cristãs históricas ante o fenômeno da pós-modernidade.
Uma visão mais ampla da libertação passa a ser almejada, não apenas focada em uma visão economicista, mas baseada também em dados antropológicospsicológicos e religiosos. Além disto, temas como a igualdade entre homem e mulher, a discriminação racial, o diálogo inter-religioso, as minorias e a ecologia vão sendo progressivamente incorporados ao engajamento dos cristãos e à reflexão teológica sobre a libertação.

Nascimento


A Teologia da Libertação nasceu da influência de três frentes de pensamento: o Evangelho Social das igrejas norte-americanas, trazido ao Brasil pelo missionário e teólogo presbiteriano Richard Shaull; a Teologia da Esperança, do teólogo reformado Jürgen Moltmann; e a teologia política que tinha como seus grandes expoentes o teólogo católicoJohann Baptist Metz, na Europa, e o teólogo batista Harvey Cox, nos Estados Unidos.
Há uma série de eventos que precederam o nascimento da Teologia da Libertação:
  • 1517: o monge alemão Martinho Lutero rebelou-se contra o tráfico de indulgências como um abuso que poderia confundir as pessoas e levá-las a confiar apenas nos bens que se pode adquirir. Proferiu, portanto, três sermões apregoando a libertação das indulgências[14].
  • 1817: Frei Caneca promove ativamente a chamada Revolução Pernambucana, que era um movimento de libertação, proclamou uma República e organizou o primeiro governo independente na região.
  • 1928: O padre Cícero Romão Batista é combatido pela hierarquia por adotar uma ação social pelos pobres no sertão cearense e também por confrontar as autoridades políticas regionais e estaduais que exerciam seu poder de forma opressiva com os mais fracos.
  • 1945: O bispo católico Dom Carlos Duarte Costa é excomungado pelo Papa Pio XII, por adotar uma ação pastoral engajada ao lado dos pobres nas lutas políticas e sociais da época, e também por utilizar as ciências sociais, inclusive as categorias marxistas para a compreensão da realidade. Dom Carlos veio então a fundar a Igreja Católica Apostólica Brasileira, que aboliu o uso do latim, da batina, extinguiu o celibato sacerdotal e aprovou o casamento de divorciados
  • 1952: O missionário presbiteriano Richard Shaull chega ao Brasil trazendo o Evangelho Social e cria uma estreita relação com os pastores presbiterianos Rubem Alves e Jaime Wright;
  • 1964: O teólogo luterano Jürgen Moltmann publica sua obra Teologia da Esperança;
  • 1965: O teólogo batista Harvey Cox publica A Cidade Secular, como contraposição à obra clássica de Santo Agostinho De Civitate Dei. Defende que a antiga divisão entre a cidade dos homens (o mundo terreno) e a cidade de Deus (o mundo espiritual) a partir do século XX encontra-se superada pela contraposição entre a cidade dos oprimidos (o mundo proletário) e a cidade dos opressores (o mundo burguês);
  • 1967: O teólogo católico Johann Baptist Metz pronuncia a conferência Sobre a Teologia do Mundo;
O marco do nascedouro da Teologia da Libertação está na publicação da obra Da Esperança, de Rubem Alves, que tinha o título de Teologia da Libertação, criticando a teologia metafísica de uma forma geral e propondo o nascimento de novas comunidades de cristãos animados por uma visão e por uma paixão pela libertação humana e cuja linguagem teológica se tornava histórica.
A primeira participação católica no lançamento da Teologia da Libertação foi a publicação da Teologia da Revolução, em 1970, pelo teólogo belga radicado no Brasil José Comblin. Em 1971, Gustavo Gutiérrez publicou Teologia da Libertação. Somente em 1972, Leonardo Boff surge no cenário teológico com a publicação de Jesus Cristo Libertador. Como Rubem Alves estava asilado nos EUA neste período, Boff passou a ser o mais conhecido representante desta corrente teológica que vivia no Brasil, devido à proteção recebida pela ordem dos franciscanos, à qual ele pertencia [carece de fontes].
O método destas teologias é indutivo: não parte da Revelação e da Tradição eclesial para fazer interpretações teológicas e aplicá-las à realidade, mas partem da interpretação da realidade da pobreza e exclusão e do compromisso com a libertação para fazer a reflexão teológica e convidar à ação transformadora desta mesma realidade. Ocorre também uma crítica à teologia moderna e sua pretensão de universalidade. Consideram esta teologia eurocêntrica e desconectada da realidade dos países periféricos.

Declínio


A Teologia da Libertação tem enfrentado um acentuado declínio nos últimos anos por diversos motivos: envelhecimento ou morte de vários expoentes dessa corrente, perda de apelo frente às novas gerações de clérigos, teólogos e fiéis, pesquisa teológica atualmente menos calcada em ideologias. Algumas vozes influentes na Igreja Católica chegam a afirmar que a Teologia da Libertação na prática já morreu: "Quando um movimento ou instituição teima em garantir que está vivo é porque morreu e virou fantasma. A Teologia da Libertação já passou." [15]

Polêmica e críticas


Acusa-se tal movimento de ser condescendente com a culpabilidade da Igreja, que segundos estudiosos, é bem menor do que julgam os promotores, e de deturpar o caminho divino, colocando-o em segundo plano diante da missão terrena de ajudar os pobres.[16]
Integrantes do movimento afirmam que este movimento sempre foi baseado em ideais de amor e libertação de todas as formas de opressão (especialmente opressão econômica). Também afirmam que ele teria uma forte base nas escrituras sacras. Por outro lado, alguns aspectos da teologia da libertação têm sido fortemente criticados pela Santa Sé e por várias igrejas protestantes (embora a Igreja Luterana a tenha adotado), como por exemplo o fato dos adeptos da Teologia da Libertação defenderem um papel político significativo para as igrejas e pela utilização do Marxismo como base ideológica e metodológica do movimento.[17][18] [19]

Posição oficial da Igreja Católica


Na Igreja Católica, a Congregação para a Doutrina da Fé publicou dois documentos sobre esta teologia: Libertatis nuntius ("Instrução sobre alguns aspectos da «Teologia da Libertação")](1984) e Libertatis Conscientia(1986). Para os que combatem esta teologia, estes documentos, apesar de defender a importância do seu compromisso radical para com os pobres, considerou-a herética porque ela faz uma releitura marxista (materialista e atéia) dos acontecimentos espirituais. E também porque a Igreja acha que a disposição da teologia da libertação em aceitar postulados do marxismo ou de outras ideologias políticas era incompatível com a doutrina católica, especialmente ao afirmar que"só seria possível alcançar a redenção cristã com um compromisso político". Outros afirmam que o que ocorreu não foi uma crítica ou repressão ao movimento em si, mas sim correção de certos exageros de alguns de seus representantes (como sacerdotes mais tendentes à política). Outros, ainda, afirmam que houve uma deliberada sanção à Igreja Latino-Americana na repressão à sua forma mais pungente de ação e crítica social. Entretanto, o próprio Papa João Paulo II dirigiu uma carta à CNBB, datada de 9 de abril de1986, pedindo o compromisso com o verdadeiro desenvolvimento desta teologia:[20]
Na medida em que se empenha por encontrar aquelas respostas justas – penetradas de compreensão para com a rica experiência da Igreja neste País, tão eficazes e construtivas quanto possível e ao mesmo tempo consonantes e coerentes com os ensinamentos do Evangelho, da Tradição viva e do perene Magistério da Igreja – estamos convencidos, nós e os senhores, de que a Teologia da Libertação é não só oportuna, mas útil e necessária. Ela deve constituir uma nova etapa - em estreita conexão com as anteriores - daquela reflexão teológica iniciada com a tradição apostólica e continuada com os grandes padres e doutores, com o magistério ordinário e extraordinário e, na época mais recente, com o rico patrimônio da Doutrina Social da Igreja expressa em documentos que vão da Rerum Novarum a Laborem Exercens.
A carta do Papa aos bispos brasileiros expressa, ainda: "Os pobres deste país, que tem nos senhores os seus pastores, os pobres deste continente são os primeiros a sentir urgente necessidade deste evangelho da libertação radical e integral. Sonegá-lo seria defraudá-los e desiludi-los." Para concluir, o texto incita ao verdadeiro desenvolvimento da Teologia da Libertação "de modo homogêneo e não heterogêneo com relação à teologia de todos os tempos, em plena fidelidade à doutrina da Igreja, atenta a um amor preferencial e não excludente nem exclusivo para com os pobres."
Por outro lado, a Igreja Católica rejeita qualquer doutrina que eventualmente passe a focar meramente nos aspectos materiais e que exclua a atenção à Deus. Desse modo, o então Cardeal Ratzinger, no retiro espiritual que pregou ao Papa João Paulo II e aos Cardeais em 1986, escreveu:
"Sem resposta para a fome da verdade, sem cura das doenças da alma ferida por causa da mentira ou, numa palavra, sem a verdade e sem Deus, o homem não se pode se salvar. Aqui descobrimos a essência da mentira do demônio. Deus aparece na sua visão do mundo como supérfluo, desnecessário à salvação do homem. Deus é um luxo dos ricos. Segundo ele, a única coisa decisiva é o pão, a matéria. O centro do homem seria o estômago" (Cardeal Joseph Ratzinger, O Caminho Pascal,-- Curso de Exercícios Espirituais realizado no Vaticano na presença de S.S. João Paulo II, Loyola, São Paulo, 1986, p. 14-15).
E perguntou o Cardeal Ratzinger, falando aos Cardeais: "Porventura não existe uma tendência, também entre nós, de adiar o anúncio da verdade de Deus, para antes fazer as coisas "mais necessárias"? Vemos, porém, que um desenvolvimento econômico sem desenvolvimento espiritual destrói o homem e o mundo".[21]

No mundo

Segundo Tamayo,[1] a Teologia da Libertação surgiu na América Latina como sistematização de um novo método teológico. Entretanto, nas últimas décadas, desenvolveu-se noTerceiro Mundo e nos ambientes marginalizados dos países desenvolvidos reflexões teológicas que também podem ser classificadas como teologia da libertação.

Teologia da libertação africana

A reflexão teológica sobre a libertação trabalha com categorias antropológicas: a aculturação e consequente perda da identidade coletiva dos povos, além de sua pobreza estrutural e seu sistema de dominação. Defende-se uma verdadeira inculturação do cristianismo. Os teólogos africanos associaram-se na Associação Ecumênica de Teólogos Africanos.

Teologia da libertação sul-africana


Esta teologia distingue-se da teologia africana por tratar do tema do apartheid. Trabalha intensamente a questão da raça, da negritude.

Teologia da libertação andina e da Amazônia legal

Traz primordialmente elementos referenciais das diversas etnias indígenas da região e de sua herança cultural de opressão[22]. Trabalha a questão da preservação da floresta, da exploração dos recursos naturais pelos de ascendência caucasiana ou asiática e seu sistema de dominação, da exploração da cocaína e do chá de ayahuasca, da perda de identidade coletiva, das diferentes etnias andinas, inclusive da fertilidade de Pachamama.
Teve como principais iniciadores Dom Moacyr Grechi, Arcebispo Emérito de Porto Velho e a ex-senadora Marina Silva.

Teologia da libertação árabe

Esta teologia distingue-se da teologia africana por tratar do tema da democracia. Trabalha primordialmente a questão da liberdade religiosa e do direito inalienável do povo ao voto.
Seus princípios foram fortemente aplicados nos protestos no mundo árabe em 2010-2011, também conhecido como a Primavera Árabe, uma onda revolucionária demanifestações e protestos que vêm ocorrendo no Oriente Médio e no Norte da África desde 18 de dezembro de 2010. Até a data, tem havido revoluções na Tunísia e no Egito, umaguerra civil na Líbia; grandes protestos na ArgéliaBahreinDjibutiIraqueJordâniaSíriaOmã e Iémen e protestos menores no KuwaitLíbanoMauritâniaMarrocosArábia SauditaSudão e Saara Ocidental

Teologia da libertação negra nos Estados Unidos

Esta teologia surgiu e se desenvolveu a partir da luta pelos direitos civis dos negros, liderados por Martin Luther King e a busca do poder negro de Malcolm X. Busca dois meios de libertação: a consciência negra e o poder negro. Posteriormente, ampliou seus horizontes para a busca de libertação dos pobres e minorias da sociedade americana, como os hispânicos, os asiáticos.
Esta teologia brotou inicialmente nas igrejas negras e seminários protestantes. O marco dessa teologia negra a publicação em 1969 da obra Black Theology and Black Power(Teologia negra e poder negro) pelo Rev. James Cone.[23] Esta teologia vem ganhando destaque devido à sua influência sobre Barack Obama, eleito Presidente dos Estados Unidos da América.

Teologia da libertação na Ásia

Tomando como base o desenvolvimento da Teologia da Libertação na América Latina, os teólogos asiáticos refletem basicamente sobre dois aspectos: a interação entre filosofia (como uma cosmovisão religiosa) e religião (como filosofia vivida) e a interação entre religiosidade e pobreza na Ásia. Um dos baluartes desta teologia é o diálogo inter-religioso, dada a situação não-cristã dos pobres da Ásia. Ocupa saliente posição nesse diálogo a comunidade de Taizé. A Comunidade foi fundada em 1940 pelo Frère Roger (Irmão Roger), que permaneceu como seu Prior até à data de sua morte a 16 de Agosto de 2005, e é dedicada à reconciliação. A comunidade ecuménica é constituída por mais de cem homens de várias nacionalidades, representando ramos Protestantes e Católicos da Cristandade. A vida na comunidade foca a oração e a meditação cristã. Jovens de todo o mundo visitam Taizé todas as semanas para integrar na vida da comunidade.

Teologia da libertação da terceira idade


Por ter suas principais raízes nas décadas de 60 e 70 do século passado, com o inevitável e progressivo envelhecimento das principais lideranças e dos seus mais destacados formuladores, vem ganhando destaque a Teologia da Libertação da Terceira Idade. Embora ainda não devidamente sistematizada, trabalha intensamente a questão da dignidade dos idosos, o direito a um sistema de saúde universalizado e de qualidade, a proteção contra a violência doméstica, o acesso a remédios a custos subsidiados pelo estado. Apesar de mais desenvolvida na Europa, onde a crise demográfica pela qual atravessa a igreja é mais evidente, já encontra também seguidores na América Latina e no Brasil. Dados do IBGE comprovam que entre os anos de 2006 e 2010, o número de pessoas com mais de 70 anos em nosso país aumentou em cerca de 12,9%[24].

Diálogo com o Islã


Em agosto de 1988, um pequeno grupo de teólogos xiitas liderados pelo Ayatullah Ja'far Subhanni, enviados do Ayatullah Ruhollah Khomeini, chegou à Argentina buscando contatos com a Teologia da Libertação através do Prêmio Nobel da Paz e ativista dos Direitos Humanos Adolfo Pérez Esquivel. Iniciou-se então um diálogo singelo porém duradouro e crescente. Ocorreram vários encontros na cidade de São PauloRio de Janeiro e Buenos Aires. Do lado cristão participaram Leonardo BoffClodovis BoffRosalvo Salgueiro, Adolfo Pérez Esquivel, Dom Paulo Evaristo ArnsPedro Ribeiro de Oliveira, Paulo de Andrade entre outros, e do lado islâmico participaram principalmente professores da Universidade da Cidade Santa iraniana de Qom, como o Ayatullah Ja'far Subhanni, o Ayatullah Mohammad Taqi Misbah Yazdi, o Huyatolislam Mohsen Rabanni, o Sheik Abdul Karin Paz, o embaixador do Irã no Vaticano Maseyami Y, o historiador Shamsudin Helia, e a teóloga Lili Kashanni.
O diálogo se esmaeceu e a última reunião ocorreu há mais de dez anos, em setembro de 1997. Outras tentativas de diálogo foram e estão sendo realizadas, mas os principais momentos de encontro acabam ocorrendo por ocasião do Fórum Social Mundial. Também os eventos da Primavera Árabe em 2011 acabaram causando certo atraso na retomada desse diálogo

Associação Ecumênica de Teólogos do Terceiro Mundo


Associação Ecumênica de Teólogos do Terceiro Mundo reúne diversos teólogos da América Latina, Ásia e África e das minorias dos Estados Unidos e dos países emergentes em torno de encontros e reflexões. Publica a revista semestral Voices of the Third World, editada na Índia. Tem desempenhado uma tarefa de vanguarda na pesquisa de uma importante derivação da Teologia da Libertação denominada Teologia da Cidadania.

Reposicionamentos e críticas


Clodovis Boff, professor da PUC/PR e importante teórico da Teologia da Libertação, irmão do ex-padre Leonardo Boff, escreveu um longo artigo [25] apontando importantes desvios na teologia da libertação. Sintetiza sua crítica em dois pontos: "a Teologia da Libertação (...) devido à sua ambigüidade epistemológica, acabou se desencaminhando: colocou os pobres em lugar de Cristo. Dessa inversão de fundo resultou um segundo equívoco: instrumentalização da fé "para" a libertação. Erros fatais, por comprometerem os bons frutos desta oportuna teologia."
Com o envelhecimento de seus mais importantes teólogos, vozes importantes de dentro do movimento passaram a apoiar o reposicionamento da Teologia da Libertação como Teologia da Cidadania[26] 

Fórum Mundial de Teologia e Libertação

Os teólogos da libertação atualmente reúnem-se no Fórum Mundial de Teologia e Libertação. Este fórum surgiu de um encontro de teólogos durante o III Fórum Social Mundial, em 2003.[27] O primeiro Fórum Mundial ocorreu em Porto Alegre, em janeiro de 2005. O II Fórum ocorreu em janeiro de 2007 em Nairóbi, capital do Quênia, com o tema “Espiritualidade para outro mundo possível”. Estes Fóruns antecedem o Fórum Social Mundial (FSM). O último fórum ocorreu em Belém (Pará) de 21 a 25 de janeiro de 2009. Seu tema geral foi Água, Terra, Teologia - para outro mundo possível. A proposta do fórum é reunir teólogos e teólogas cristãs dos diversos continentes que trabalhem com o tema da libertação, em todas as suas dimensões, tornando-se "um espaço de encontro para reflexão teológica de alternativas e possibilidades de mundo, tendo em vista contribuir para a construção e uma rede mundial de teologias contextuais marcadas por perspectivas de libertação".[28]
O IV Fórum Mundial de Teologia e Libertação foi realizada de 5 a 11 de fevereiro de 2011, em Dakar, Senegal, junto ao 10º Fórum Social Mundial.[29]. No evento estiveram presentes cerca de 110 teólogos e teólogas de diversas tradições religiosas e de diferentes partes do mundo, com o objetivo de promover o diálogo entre as religiões e as práticas sociais.

Referências

  1. ↑ a b Tamayo J. J. Teologias da libertação. In: Dicionário de Conceitos Fundamentais do Cristianismo. São Paulo: Paulus, 1999. ISBN 85-349-1298-X
  2.  Berryman, PhillipLiberation Theology: essential facts about the revolutionary movement in Latin America and beyond(1987)
  3.  "[David] Horowitz first describes liberation theology as 'a form of Marxised Christianity,' which has validity despite the awkward phrasing, but then he calls it a form of 'Marxist–Leninist ideology,' which is simply not true for most liberation theology..." Robert Shaffer, "Acceptable Bounds of Academic Discourse," Organization of American Historians Newsletter 35, November, 2007. URL retrieved 12 July 2010.
  4.  Richard P. McBrien, Catholicism (Harper Collins, 1994), chapter IV.
  5.  Liberation Theology General Information, on Believe, an online religious information source
  6.  Gustavo Gutierrez, A Theology of Liberation, First (Spanish) edition published in Lima, Peru, 1971; first English edition published by Orbis Books (Maryknoll, New York), 1973.
  7.  ITEO – Instituto Teológico João Paulo II TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO: ORIGENS, CRÍTICA E ATUALIDADE, acessada em 24 de setembro de 2012.
  8.  Congresso Continental de Teologia
  9.  Sínodo dos Bispos para a Nova Evangelização
  10.  Congregation for the Doctrine of the Faith, "Instruction on certain aspects of the 'Theology of Liberation'", Origins 14/13 (September 13, 1984). Online version.
  11.  Congregation for the Doctrine of the Faith, "Instruction on Christian Freedom and Liberation", Origins 15/44 (April 17, 1986).
  12.  Gonçalves, A. J (2007). Gênese, crise e desafios da Teologia da Libertação,<http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?lang=PT&cod=28241&busca= Agência de Informação Frei Tito para a América Latina>, www.adital.com.br, acessado em 16 de janeiro de 2008.
  13.  Teixeira, F. O desafio do pluralismo religioso para a teologia latino-americanaIser Assessoria, acessado em 21 de janeiro de 2008.
  14.  A libertação das indulgências
  15.  Teimam em gritar: a Teologia da Libertação está viva!, Dom Henrique Soares da Costa, Bispo Auxiliar de Aracaju, visitado em 26 de fevereiro de 2012.
  16.  Teologia da Libertação no blog cancaonova
  17.  Catholic Liberation Theology in Latin-America (em inglês). atheism.about.com. Página visitada em 14 de Outubro de 2010.
  18.  The Marxist Roots of Black Liberation Theology (em inglês). Acton Institute. Página visitada em 14 de Outubro de 2010.
  19.  Papa condena outra vez a Teologia da Libertação (em português). Biblia Católica News. Página visitada em 28 de Setembro de 2010.
  20.  João Paulo II. CARTA DO PAPA JOÃO PAULO II AOS BISPOS DA CONFERÊNCIA EPISCOPAL DOS BISPOS DO BRASIL , acessada em 24 de março de 2008.
  21.  Cardeal Joseph Ratzinger, O Caminho Pascal,-- Curso de Exercícios Espirituais realizado no Vaticano na presença de S.S. João Paulo II, Loyola, São Paulo, 1986, p. 15
  22.  Bogotá será anfitriã da Jornada Teológica Andina
  23.  Barack Obama e a teologia negra da libertação. Página da Unisinos, acessada em 15 de abril de 2008.
  24.  Sinopse do Censo Demográfico 20101.12 - População residente, por sexo e grupos de idade, segundo as Grandes Regiões e as Unidades da Federação, IBGE, Brasil, Acessado em 19 de setembro de 2012
  25.  Adital, Teologia da Libertação e volta ao fundamento
  26.  Da Teologia da Libertação para a Teologia da Cidadania, World Forum on Theology and Liberation, February 5 to 11, Dakar, Senegal
  27.  Adital (2008): Belém lança III Fórum Mundial de Teologia e Libertação
  28.  Página do Fórum Mundial de Teologia e Libertação, acessada em 30 de agosto de 2009.
  29.  Página do Fórum Mundial de Teologia e Libertação

Em português

  • Vigil, J. M., Barros, M., Tomita, L. E. Pluralismo e Libertação. São Paulo: Edições Loyola, 2005. ISBN 9788515029938
  • Boff, L. e Boff, C. Como fazer Teologia da Libertação. 8a edição. Petrópolis: Editora Vozes, 2005. ISBN 8532605427
  • Boff, L. Jesus Cristo Libertador. 18a edição. Petrópolis: Editora Vozes, 2003. ISBN 8532606407
  • Dussel, E. Ética da Libertação na idade de globalização e exclusão. 2a edição. Petrópolis: Editora Vozes, 2002. ISBN 8532621430
  • Dussel, E. Teologia da Libertação – Um panorama do seu desenvolvimento. Petrópolis: Editora Vozes, 1999. ISBN 8532622046
  • Dussel, E. e outros: Por um mundo diferente – Alternativas para o mercado global. Petrópolis: Editora Vozes, 2003. ISBN 8532628931
  • Gutiérrez, G. Teologia da Libertação. Perspectivas. São Paulo: Edições Loyola, 2000. ISBN 9788515020362
  • Libânio, J. B. Teologia da Libertação. Roteiro didático para um estudo. São Paulo: Edições Loyola, 1987. ISBN 9788515031580
  • Segundo, J. L. A história perdida e recuperada de Jesus de Nazaré. São Paulo: Editora Paulus, 1997. ISBN 8534907420
  • Sobrino, J. Espiritualidade da Libertação. Estrutura e conteúdos. São Paulo: Edições Loyola, 1992. ISBN 9788515006809
  • SOBRINO, J. A Fé em Jesus Cristo: ensaio a partir das vítimas. Petrópolis: Vozes, 2001, 512 p. ISBN 8532623948
  • SOBRINO, J. Jesus, o Libertador. I - A História de Jesus de Nazaré. Petrópolis: Vozes, 1994, 392 p. ISBN 8532609805

No hay comentarios:

Publicar un comentario